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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A BUSCA DE UM REFERENDO PARA UM PROJETO CONTRA O BRASIL




A promoção de iniciativas autodenominadas de audiências públicas, que vem sendo praticada em diversos pontos do Brasil, volta a colocar na mídia o debate sobre mudanças no Código Florestal Brasileiro, agora em discussão no Senado Federal. Curitiba recebe nesta sexta-feira (dia 19) um evento desta natureza, na Assembléia Legislativa do Paraná. É mais um capítulo de uma intensa controvérsia, a qual demanda ainda maior compreensão do público em relação a sua relevância e aos desdobramentos possíveis que pode acarretar uma avaliação do que vem sendo proposto a partir da vontade dos ruralistas.

Sob a ótica da população em geral, o evento anunciado representa uma ação notadamente irrelevante. E que sequer fará parte do noticiário local. Afinal, a derrota desmedida ocorrida no Congresso Nacional pouco tempo atrás, parece suscitar nas pessoas que já está colocada uma pá de cal nas expectativas de reversão das profundas alterações impostas pelos ruralistas a uma Lei que, mais do que tudo, busca equilibrar a atividade agrícola com a proteção do meio ambiente e da sociedade, com benefícios para o próprio setor em termos de mudanças climáticas. Demandas estas que todos, invariavelmente, concordam sejam complementares e interdependentes - a não ser por aqueles que defendem com todo o radicalismo possível, as mudanças em questão, colocando de cabeça para baixo as premissas mais básicas de racionalidade do uso do patrimônio natural brasileiro.

Para os muitos cidadãos envolvidos mais diretamente na luta em defesa do Código Florestal, que em nenhum momento abriram mão da prerrogativa de impedir que os abusos escancarados, estabelecidos no substitutivo do Deputado Aldo Rebelo, sejam consolidados na prática, a "audiência pública" anunciada soa mais como a busca de um aval maquiado, do povo paranaense, a um projeto contra a nação brasileira. Embora a presença do contraditório venha estar presente, uma maciça mobilização de políticos que defendem as mudanças pretendidas, transformará uma reunião inexpressiva, numa ferramenta para anunciar a "vontade popular" dos paranaenses, justamente na forma de um acatamento inconteste a uma proposta imoral e descabida. Para isto, o uso intenso da mídia será reforçado, com o lastro financeiro que os envolvidos no agronegócio sustentam sem pestanejar.

E no caso dos ruralistas, em especial políticos e lideranças que representam atividades de latifundiários, nada mais adequado do que a realização de eventos em que a maioria presente expressará, na base da força que já demonstraram possuir de sobra, uma vontade setorial inegociável com a sociedade. Interessante notar que este tipo de evento não permite nem possibilita nenhum tipo de troca mais produtiva, pois parte-se do princípio de que as posições estão fechadas. Ninguém quer convencer ninguém, portanto. E que, ao invés de uma suposta negociação, estamos sim diante de uma imposição sem precedentes, que desconsidera o interesse maior da sociedade em favor de resultados imediatistas e que apenas favorecem uma fração mínima de brasileiros, identificada como os praticantes da agricultura e da pecuária que abraça fundamentalmente a grande propriedade.

Todos aqueles cidadãos que minimamente acompanharam a cobertura da mídia envolvendo as mudanças do Código Florestal devem estar incomodados, em algum grau, com o que se apresentou até aqui. Seja pela truculência e insensibilidade do rolo compressor ruralista, impondo suas vontades e interesses, incluindo a flexibilização a crimes cometidos em anos passados, com uma busca imoral pelo perdão inconteste. Seja pela forma inconseqüente com a qual a votação no Congresso se processou, valendo muito mais a provocação e a ameaça à liderança da Presidência da República, face à objeção a incontáveis interesses específicos de partidos e parlamentares, a uma discussão responsável de um assunto que poderá mudar drasticamente o nosso futuro.

Quem ainda não percebeu com maior clareza, que acorde. Estamos diante de uma manipulação histórica, de altíssimo risco para o país e que poderá gerar conseqüências sociais e econômicas negativas grandiosas, justamente em função de um comportamento ético que já não cabe a um povo que quer se orgulhar de um país sério e que não se curva a falsidades levianas e politiqueiras somadas à manipulação indecente do poder econômico de um setor específico da sociedade, culturalmente atrasado.

Clóvis Borges e Teresa Urban, membros do Movimento SOS - Florestas Paraná

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