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quarta-feira, 25 de março de 2015

PASSO A PASSO PARA CAPTAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA




Manual do IPT mostra todas as etapas da captação da água de chuva para situações emergenciais
 
 
A torneira seca hoje é a realidade de muitos paulistanos que, em bairros mais periféricos da cidade, já sentem os efeitos da falta de água. Diante de um cenário de crise de abastecimento e sem condições financeiras de se valer de um caminhão pipa, a solução para esses moradores vem literalmente do céu: a água de chuva é a aposta para aqueles que não têm mais opção para manter a sua rotina, que exige, para cada um, em torno de 180 litros de água por dia. 
 
Em situações emergenciais a água de chuva é uma solução possível, desde que alguns cuidados sejam tomados. São essas boas práticas, que vão da captação à utilização, passando pela filtragem e armazenamento da água, que o manual que o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) lança nesta semana pretende mostrar. 
 
“As chuvas que fecharam o verão paulistano, apesar de contrubuírem para o reservatório da Cantareira, não são suficientes para estancar a crise hídrica. A captação de água de chuva já é uma saída para muitas famílias, mas é preciso melhorar a qualidade dessa água que, em muitos casos, não é tratada corretamente”. O alerta é do pesquisador do IPT Luciano Zanella, doutor em engenharia sanitária e autor do manual, que busca oferecer à população orientações para o aproveitamento emergencial da água de chuva, apresentando as boas práticas para a sua captação, armazenamento e utilização doméstica. 
 
Apesar de ser uma técnica relativamente simples, o aproveitamento da água de chuva possui requisitos mínimos que devem ser respeitados para garantir o funcionamento do sistema e, principalmente, para assegurar a qualidade dos volumes coletados. O principal alerta da cartilha, que é voltada para o cidadão comum, sem conhecimento técnico, é a necessidade do descarte da água da primeira chuva, responsável pela lavagem da atmosfera e dos contaminantes presentes na superfície dos telhados. “Recomenda-se o descarte de dois litros de água para cada metro quadrado de área de telhado utilizado para captação, o que corresponde aos dois primeiros milímetros de precipitação. É também fortemente recomendada a filtragem dessa água, mesmo que de maneira simplificada, com a utilização de um filtro de malha do tipo de coador de chá”, explica Zanella.
 
Os usos mais convencionais dados a esta água são a descarga de bacias sanitárias, limpeza de pisos e veículos e rega de áreas verdes. Mas, se faltar água de qualidade superior, a água de chuva – desde que captada e tratada de forma adequada – pode ser também utilizada para ingestão e preparo de alimentos. Neste caso recomenda-se, após captação, tratamento e armazenamento da forma tecnicamente adequada, a fervura por um tempo superior a três minutos para melhorar a segurança sanitária.
 
O manual pode ser acessado gratuitamente por todos os interessados e está disponível no site do IPT pelo link http://migre.me/p6wJT  
 

quinta-feira, 19 de março de 2015

"Crise hídrica - a natureza aceita apenas a verdade"


Maurício Dziedzic é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental (Mestrado e Doutorado) da Universidade Positivo
Maurício Dziedzic*

A falta de água forçava as pessoas a tomar urina reciclada. Essa era uma parte impressionante do livro "Não verás país nenhum", de Ignácio de Loyola Brandão, que li na adolescência. Hoje sei que o conceito não é tão esotérico e já se tornou realidade em alguns locais do planeta. Recentemente, Bill Gates tomou água proveniente de esgoto reciclado para mostrar que isso é seguro. Melhor seria não ter que recorrer a esse tipo de solução, mas tudo indica que, como diz o tetracampeão Zagallo, "vamos ter que engolir".

A escassez de água em São Paulo, no cerne do Brasil "desenvolvido", finalmente traz para aqueles que não tinham sido sensibilizados pelos anos de seca em regiões mais pobres a sensação de que o problema, além de real, é grave. E a situação, ao contrário de tantas outras que assolam nosso país, não pode ser resolvida, ou escondida, pela alteração de regras, pelo desmentido, pelo "eu não sabia", nem por medida provisória. A natureza aceita apenas a verdade - se a solução não for a correta, o problema não será resolvido, nem esquecido.

Após décadas de desmatamento, desproteção de nascentes, poluição nas mais variadas formas, impermeabilização do solo impedindo a recarga dos aquíferos e exploração desenfreada de recursos naturais, algumas regiões dão sinal de que a sociedade levou a natureza ao limite. É o caso de São Paulo. A variabilidade natural da ocorrência de chuvas, com alternância de períodos secos e períodos úmidos, faz com que seja normal a falta de água em alguns momentos. Todavia, os reservatórios são concebidos exatamente para garantir o abastecimento quando chove menos.

O astuto leitor diria que a solução é construir reservatórios cada vez maiores, à medida em que a população aumenta. Há limite de quanta água se pode armazenar, em função da quantidade que chove em cada bacia hidrográfica. Existem, porém, outras fontes de fácil acesso que estão sendo ignoradas no país todo: os próprios sistemas de distribuição de água, pasmem.

O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos, 2012, publicado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), mostra que as perdas médias de água tratada no Brasil são de 36,9 %. O índice no PR é de 33 %. O menor é do Distrito Federal, com 23,9 %, e o maior é do Amapá, com 71,9 %.

Levando em conta que parte dessas perdas pode não ser real, mas simplesmente água furtada do sistema por ligações irregulares, pode-se arredondar a conta. Ou seja, mais de um terço é perdido por falhas na rede. Em países desenvolvidos, o índice é próximo a 10%. Poderíamos estabelecer meta mais humilde, talvez próxima a 20 % a médio prazo. Já faria diferença.

Para isso, é necessário investir em infraestrutura e na gestão do saneamento. Não adianta culpar as concessionárias se não são dadas condições para melhorar a situação. O orçamento deveria ser maior. Há muito tempo o setor se queixa e não é ouvido. Infraestrutura é resolvida com obras - principalmente a melhoria das redes de distribuição. A gestão é resolvida com honestidade e educação.

A honestidade resolveria também outros problemas do país que, além da crise hídrica, passa por crise moral, nos transportes, na energia, entre outras. A educação idem, pois profissionais e pessoas, em geral, com melhor formação e discernimento, poderiam utilizar recursos com mais responsabilidade, conduzir melhor o país e decidir seu destino, em vez de serem conduzidas.


*Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental (Mestrado e Doutorado) da Universidade Positivo.

Entidades denunciam crise hídrica de SP na ONU


Conectas, em apoio à Aliança pela Água, cita na 28a sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas medidas do governo paulista que afetam a população

São Paulo, março de 2015 - Conectas e Aliança pela Água denunciarão a crise hídrica do Estado de São Paulo durante a 28ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, nesta sexta-feira (20).

Em pronunciamento oral, as organizações irão alertar quanto à iminente situação de colapso no abastecimento de água na região, que ameaça o direito humano de acesso à água.

“A maior e mais rica região metropolitana do país está enfrentando a pior crise hídrica de sua história. Nossos principais reservatórios de água foram quase exauridos, colocando em risco o abastecimento de água de milhões de pessoas”, diz trecho do pronunciamento.

As entidades enfatizam a crise como consequência de décadas de políticas equivocadas na gestão e conservação da água e o uso indiscriminado do racionamento informal, chamado pelo governo de “redução de pressão”, que impacta principalmente as comunidades mais vulneráveis.

Com a denúncia, as organizações esperam acionar os mecanismos do Conselho de Direitos Humanos da ONU em defesa do direito humano de acesso à água dos cidadãos paulistas, como o Relator Especial da ONU para a Água. O pronunciamento está previsto para a manhã do dia 20.

A Conectas possui status consultivo nas Nações Unidas, o que permite participação nas sessões do Conselho. Reunindo representantes da sociedade civil e governos de 47 países membros, incluindo o Brasil, o CDH é a instância global por excelência para a discussão do tema dos direitos humanos.