Estudo da Universidade da Florida analisou três empreendimentos madeireiros, sendo dois no Amazonas e um no Pará
Um estudo que analisou três empreendimentos de manejo florestal comunitário na Amazônia – dois no Amazonas e um Pará –, mostrou que eles podem ser viáveis economicamente. As informações foram apresentadas em palestra da especialista Shoana Humphries no dia 28, no Serviço Florestal Brasileiro.
Shoana fez a pesquisa dentro de uma tese de doutorado defendida na Universidade da Flórida (EUA) e analisou os casos do Projeto Ambé, na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e da Associação Comunitária, Agrícola e de Extratores de Produtos da Floresta (ACAF), ambos no Amazonas. Todos são de manejo madeireiro. A pesquisa teve participação do economista do Serviço Florestal dos Estados Unidos Tom Holmes.
A relação entre custos e retorno financeiro de cada empreendimento variou em função das características da iniciativa, sendo a mais bem sucedida a do Projeto Ambé. O valor obtido com a venda da madeira em tora foi mais de 10% maior que todos os investimentos no manejo, o que permitiu pagar salários entre 32% e 98% acima do salário mínimo no ano em que os dados foram levantados, em 2007.
Entre os empreendimentos analisados, o Ambé foi o que trabalhou com a maior área de manejo no ano, de 300 hectares, e o único que usou maquinário para arraste, como os tratores de skider. Os maiores custos foram os da parte administrativa, que representaram cerca de 70%. O estudo avaliou o custo e o retorno em termos absolutos, ou seja, sem incluir os custos de capital e o fluxo de caixa.
O Mamirauá, mesmo manejando uma área bem menor no ano, de apenas 18 hectares, também obteve retorno acima dos custos. A comercialização de madeira em tora e beneficiada gerou uma remuneração para os trabalhadores 5% maior que o salário mínimo. Os comunitários não usaram máquinas para arrastar as toras.
Já a Associação Comunitária, Agrícola e de Extratores de Produtos da Floresta (ACAF) não obteve retorno com a venda de madeira beneficiada, pois a produção do ano foi baixa – apenas 20m³ – o que levou o custo de produção por metro cúbico ficar acima do investimento em infraestrutura, por exemplo, para transformar a madeira em prancha. No entanto, segundo Shoana, em todos os empreendimentos as pessoas envolvidas receberam salários ou dividendos do período trabalhado no manejo. Nessas regiões, manter o emprego e a renda é um resultado positivo do manejo, mesmo quando este ainda não está dando lucro, diz a pesquisadora. Desafios Segundo Shoana, a viabilidade econômica do manejo ainda é bastante influenciada por questões internas e externas aos empreendimentos, mas uma forma de reduzir o problema, no Brasil, é prover assistência técnica constante. “A assistência foi um dos maiores custos e dar apoio ajudaria a melhorar a rentabilidade”, diz. Porém, o manejo “não é uma atividade que tem programas de assistência permanentes, como a agricultura, no meu entendimento”.
A pesquisadora afirma que no México, um dos países onde ela também estudou o manejo comunitário, uma das saídas foi a criação de organizações específicas para prestar esse serviço. No modelo aplicado lá, a própria comunidade paga para receber a assistência técnica.
Outros pontos que, segundo o estudo, auxiliariam as comunidades é o acesso a fontes de crédito locais, a simplificação da burocracia e a redução dos impostos. A ACAF, diz Shoana, pagou 17% de ICMS para vender a madeira dentro do estado e 12% fora dele.
Como ponto forte do manejo comunitário brasileiro, ela vê o associativismo e o cooperativismo, especialmente no caso do Acre, “um modelo para o resto do mundo”. Entre os casos bem-sucedidos desse estado está o de uma cooperativa de associações certificadas. “A cooperativa está assumindo papéis que o governo e as ONGs locais tiveram antes; estão fortalecendo assim a organização e o gerenciamento”, diz.
Shoana, que hoje é gerente de Políticas Sociais do Forest Stewardship Council International (FSC), na Alemanha, e Tom Holmes, em parceria com entidades do terceiro setor no Brasil, estão desenvolvendo um guia de fácil uso para que as comunidades monitorem seus custos e receitas e consigam fazer a análise financeira de seus empreendimentos.
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