Priscila Galvão
Brasília (05/12/2011) – O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), acaba de concluir mais um censo da população de araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari). A espécie, criticamente ameaçada de extinção, é endêmica (exclusiva) da região do Raso da Catarina, no sertão baiano. Os primeiros dados mostram que a população vem crescendo em ritmo contínuo e sustentável ao longo dos anos.
No total, foram registrados 1.150 indivíduos. Há dois anos, esse número girava em torno de 900. O primeiro censo, realizado em 1987, registrara apenas 60 indivíduos, o que apontava para uma provável extinção da espécie. Pesquisadores são unânimes em afirmar que essa situação foi revertida, principalmente, pela criação da Estação Ecológica (Esec) do Raso da Catarina, que tem como principal objetivo proteger o habitat da arara-azul-de-lear.
As contagens foram realizadas durante os meses de outubro e novembro em pontos estratégicos nos dois dormitórios da ave conhecidos na região – um na Serra Branca, localizada na região sudoeste da Esec do Raso da Catarina, em Jeremoabo, e o outro na Toca Velha, na Estação Biológica de Canudos, de propriedade da Fundação Biodiversitas, em Canudos, todos na Bahia.
CONTAGEM – O censo adotou a metodologia da contagem direta, em que o observador fica em um ponto fixo e contabiliza todos os indivíduos que pousam no paredão de arenito, onde as aves fazem seus dormitórios, ou que passam pelo seu campo visual, tomando o devido cuidado para não contar indivíduos já registrados.
Nas contagens, um ou dois pesquisadores foram posicionados em cada ponto estratégico do entorno dos dormitórios das aves. Eles carregavam uma ficha de anotação padronizada e um rádio comunicador pelo qual podiam falar com outros colegas, evitando duplicidade nas contagens entre os pontos.
As contagens foram realizadas simultaneamente em dez pontos – sete na Estação Ecológica (Esec) Raso da Catarina e três na Toca Velha. Ao todo, foram 12 contagens por ponto, pela manhã e à tarde. O trabalho contou com o apoio da Fundação Biodiversitas, da chefia da Esec Raso da Catarina e de voluntários da comunidade de Jeremoabo.
Durante o censo deste ano, foi realizada também a identificação de possíveis paredões na Esec Raso da Catarina para descida em ninhos e captura de filhotes, conciliando as atividades de censo com o treinamento com o técnico em descida, Wolgrand Falcão, e iniciado os trabalhos de levantamento da avifauna da Esec Raso da Catarina, visando avaliar a efetividade desta unidade na conservação das aves.
CENSO – O primeiro censo da espécie foi realizado por Yamashita, em 1987, que registrou um total de 60 indivíduos. Entre 1998 e 1999, o Comitê para Recuperação e Manejo da arara-azul-de-lear e a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) promoveu contagens que indicaram um aumento para 170 indivíduos.
A partir de meados dos anos 2000, o Cemave passou a realizar contagens simultâneas nos locais de pernoite das espécies, com o objetivo de atualizar os dados populacionais e implementar o programa de recuperação das araras-azuis-de-lear. Nessas contagens, observou-se um aumento de 246 araras.
ESPÉCIE – A arara-azul-de-lear vive em bandos e utiliza para descanso e reprodução os paredões rochosos de arenito-calcário localizados em dois sítios protegidos, a Serra Branca, no sudoeste da Esec do Raso da Catarina, administrada pelo ICMBio, e em Toca Velha. Dos dormitórios, elas partem diariamente, bem cedo, para as áreas de alimentação e retornam no final do dia, para repouso.
A espécie se reproduz exclusivamente em cavidades pré-existentes nos paredões delineados pelos ventos, chuvas e por infiltrações de água. A atividade reprodutiva tem início em setembro, com a exploração de cavidades, e se prolonga até julho quando os últimos filhotes saem dos ninhos. No final do período reprodutivo, entre os meses de maio e agosto, observa-se um significativo aumento no número de aves na região de Canudos, o que sugere uma movimentação de indivíduos entre as áreas de reprodução.
Além de possuir uma distribuição altamente restrita, a arara-azul-de-lear é ameaçada pelo tráfico ilegal e pela destruição de seu habitat. A situação é extremamente preocupante também devido ao crescimento desordenado que vêm ocorrendo nos arredores dos municípios localizadas na área de distribuição da espécie. A ave é alvo de traficantes e colecionadores devido, principalmente, a sua beleza, adaptabilidade ao cativeiro e capacidade de interação.
Ascom/ICMBio