segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Projeto inédito prevê recuperação e conservação do Maciço de Segredo no RS
Uma proposta de projeto para Manejo e Recuperação em remanescentes de Floresta Ombrófila Mista foi apresentada e aprovada, na sexta-feira (24/08), na Superintendência do Ibama/RS pela professora Ana Paula Rovedder (Dra. em Ciência do Solo, professora do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas - Neprade). A proposta é ousada, pois a expectativa é trabalhar com quebra de paradigmas, unindo a restauração florestal com potencial produtivo. Mas, com base em experiências que já ocorrem (principalmente nas regiões tropicais), onde estas técnicas estão mais evoluídas: "estamos adaptando conceitos", pondera.
Este projeto é o desdobramento de acordo assinado com o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) e Associação dos Fumicultores do Rio Grande do Sul (Afubra), em agosto de 2011, prevendo Ações para Recuperação e Conservação do Maciço Segredo, localizado na cidade de mesmo nome, na Região Central do Estado. Na ocasião também foi assinado termo de compromisso para viabilizar a implantação de um sistema piloto de monitoramento de área de produção de tabaco (já em execução) intitulado Rastreabilidade da Produção do Tabaco no Bioma Mata Atlântica no Rio Grande do Sul.
No município de Segredo, em 2010-2011, o Ibama flagrou e autuou desmatamentos ilegais na Mata Atlântica, que se destinavam à implantação de lavouras de fumo; em um maciço de floresta remanescente daquele município foram identificadas diversas manchas de desmatamentos, que se tornaram emblemáticas e serviram de alerta para a necessidade de se manter um controle mais rígido sobre a recuperação e controle dos remanescentes de Mata Atlântica no RS.
Enquanto o monitoramento prevê imagens de satélite com uma resolução capaz de detectar alterações nas diversas formações vegetais em áreas menores de um hectare até 2014, o projeto apresentado pela professora da Universidade de Santa Maria prevê a elaboração de um plano (para os próximos quatro anos) de conservação de área de aproximadamente 150 ha, além da recuperação dos danos ambientais causados por desmatamento em área do Bioma Mata Atlântica.
A proposta apresentada prevê a utilização de diversas metodologias combinadas. Na região piloto do maciço serão utilizadas espécies nativas da Floresta Ombrófila Mista em sistemas agroflorestais e em enriquecimento de capoeira em linhas e por nucleação. A pesquisa prevê interação com as florestas nativas e o resgate do potencial de utilização das espécies através da produção de madeira, recuperação de ecossistemas e prestação de serviços ambientais, entre outros. A implantação do projeto inclui: recuperação de áreas degradadas, restauração ecológica de ecossistemas, com restauração de funções e diversidade.
De forma resumida pode-se destacar entre as metas do projeto a restauração da área degradada (agregando a população local); viabilização de sistemas agroflorestais para a região; uso de espécies nativas; análise do desempenho das técnicas testadas como forma de mitigação de impactos e, finalmente, geração de tecnologias e retorno da fauna para a área recuperada.
Segundo a professora Ana Rovedder, o projeto possui características educacionais agregadoras e é a oportunidade de ter uma área referência no Estado no que se refere à recuperação de áreas degradadas (“não para quatro, mas para os próximos 50 anos”), pois precisamos resgatar referências a longo prazo, integrando diversos setores da sociedade, avalia. “Precisamos aproveitar este momento histórico”, enfatiza. O projeto deverá ainda gerar conhecimento para publicações, boletins técnicos, artigos científicos e capacitações, “aproveitando as suas características educacionais agregadoras”.
Nucleação
Uma das metodologias que despertou maior interesse dos técnicos que assistiam a apresentação do projeto foi a chamada Nucleação, que nada mais é do que um processo natural onde as espécies plantadas em comunidades (focos) propagam sementes, reativando os processos ecológicos naturais. Desta forma, além de reduzir o número de mudas utilizadas (e por conseqüência, o custo) a técnica acelera o processo de recuperação da área. Como subsídio para a escolha das espécies a serem implantadas no local, neste primeiro momento do projeto, foram considerados os dados do Inventário Florestal Contínuo do Rio Grande do Sul (Sema 2010) e das primeiras visitas à área.
As espécies foram selecionadas de acordo com aptidões e/ou funções ecológicas. Entre as espécies atrativas estão: guabiroba, pitangueira, chal-chal, araçá do mato, camboatá-vermelho e camboatá branco, capazes de atraírem diversos tipos de animais, incentivando os mecanismos de polinização e dispersão e, contribuindo para a restauração florestal da área.
Espécies madeireiras promissoras: grápia, cedro, canjerana, guajuvira e angico-vermelho, entre outras, já que na região há demanda de madeira para lenha, serraria, moirões, postes e construções em geral.
Espécies pioneiras foram escolhidas para incentivar a cobertura do solo, produção inicial e rápida de biomassa e sombreamento para as espécies não pioneiras.
Espécies melíferas como angico vermelho, açoita-cavalo, cedro, guabiroba, chal-chal e pitangueira foram incluídas para testar outro uso sustentável da floresta nativa.
Após a apresentação, o Superintendente do Ibama/RS, João Pessoa Moreira Junior comentou que agregar a academia ao projeto de recuperação do maciço de Segredo se mostrou a opção mais adequada, bem como a proposta de agregar a população local. Ele disse também que a qualidade técnica do projeto superou todas as expectativas. Essa também é a opinião do analista ambiental Tarso Isaia, chefe do Escritório Regional do Ibama em Santa Maria que destacou a qualidade do projeto e dos dados a serem gerados com sua implementação.
Cinco dias depois da apresentação do projeto na Superintendência, o analista ambiental Tarso Isaia comunicou à Universidade Federal de Santa Maria sobre a aprovação da proposta e sinalizou para que sejam iniciadas as atividades constantes no cronograma. Na proposta consta cronograma com atividades já para setembro de 2012, com limpeza da área e inicio de plantio em linhas e nucleação. Nos próximos dias será marcado um Dia de Campo reunindo (na região do maciço) técnicos dos órgãos e entidades envolvidas no projeto de recuperação do Maciço de Segredo.
A coordenação geral do projeto é do professor do Centro de Ciências Rurais e do Departamento de Ciências Florestais, e doutor em Economia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria, Jorge Antonio de Farias.
Maria Helena Firmbach Annes
Ascom/Ibama/RS
Foto: Heitor de Souza Peretti - Ibama/RS