quarta-feira, 16 de maio de 2012
CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANDARELA
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Roberto Ricardo Vizentin, considerou “muito produtivas” as consultas públicas realizadas em Minas Gerais para discutir a proposta de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela. Ele participou de três das seis audiências promovidas na semana passada em municípios do entorno da região onde deverá ser instalada a unidade de conservação, o Quadrilátero Ferrífero de Minas, na região metropolitana da capital.
Vizentin ficou empolgado com o clima de participação popular que marcou as reuniões em Belo Horizonte, Santa Bárbara e Rio Acima, nas quais pôde comparecer. “As pessoas se mobilizaram, levaram faixas, participaram dos debates e, principalmente, defenderam suas ideias com muita propriedade”. Segundo ele, isso é importante porque reforça o caráter democrático das consultas públicas.
O presidente disse que, no processo de criação de unidades de conservação, o Instituto busca conciliar interesses divergentes. “Procuramos solucionar os conflitos, buscar consensos, tendo como parâmetro a proteção da natureza e o desenvolvimento sustentável”.
Nesse sentido, ele destacou alguns pontos tratados nas audiências, como a proposta de se instituir uma reserva de desenvolvimento sustentável (RDS) na região de Santa Bárbara, contígua ao parque, para permitir a sobrevivência de agricultores familiares, da mesma forma que se busca, em outra parte do Gandarela, conciliar a conservação da natureza com a indústria de extração de minério de ferro, uma atividade de grande impacto tanto econômico como ambiental.
Audiências concorridas
Além de Belo Horizonte, Santa Bárbara e Rio Acima, houve reuniões em Raposos, Caetés e Ouro Preto. Segundo Carla Guaitanele, coordenadora-substituta de Criação de Unidades de Conservação do ICMBio, cada audiência registrou, em média, a presença de 300 pessoas, sendo que em Belo Horizonte esse número chegou a ser ainda maior. Pelas contas dela, 500 pessoas lotaram o Salão Nobre da Faculdade de Medicina, no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Participaram das audiências os vários setores envolvidos na proposta de criação do parque – as empresas mineradoras, entre elas a Vale, o Sindicato da Indústria de Extrativismo Mineral, o Instituto Brasileiro de Mineração, prefeituras de Belo Horizonte e demais municípios, Governo do Estado e, ainda, representantes dos movimentos social e ambiental, pequenos produtores rurais, comerciantes, membros da UFMG e da Federal de Ouro Preto e moradores da região do entorno do parque.
O próximo passo, agora, segundo Carla, é realizar uma nova rodada de reuniões, desta vez com os moradores da região onde pretende-se criar a RDS. Essa área comporta, entre outras, as comunidades de André e Cruz do Peixoto, no município de Santa Bárbara, e Socorro, no município de Barão de Cocais. “Precisamos ouvir as pessoas, saber o que elas querem, para então redefinir os limites do parque com base nessas reivindicações."
Vegetação de canga
A Serra do Gandarela fica entre Rio Acima, Santa Bárbara, Caeté e Ouro Preto, próximo à Serra de Catas Altas, na chamada região metropolitana de Belho Horizonte. É um dos últimos remanescentes intactos do Quadrilátero Ferrífero. Nela, são encontrados remanescentes de Mata Atlântica, Cerrado e ainda a vegetação de canga, típica de locais onde há minério. Esse tipo de vegetação, por causa do interesse econômico na exploração do minério de ferro, corre risco de desaparecer sem que sua biodiversidade seja conhecida e mapeada.
Outro fato preocupante é a questão da água. Na Serra do Gandarela, nascem importantes mananciais que abastecem as bacias do Rio Doce e do São Francisco. Os impactos da mineração sobre esses mananciais poderão ser irreversíveis. Segundo especialistas, a exploração desenfreada das cangas pode ter, no futuro, impacto até no fornecimento de água para Belo Horizonte.
Ascom/ICMBio