domingo, 2 de junho de 2013
Mangue do Rio Escuro em Ubatuba (SP) pede socorro
POR CHRIS GORGUEIRA ESPECIAL PARA O LINHA VERDE
Terrenos são comercializados em área de proteção ambiental. Construções irregulares e destruição da mata avançam na área do mangue.
A comunidade do rio Escuro, bairro do município de Ubatuba, do lado da Serra do Mar, entre as praias Dura e Domingas Dias e área de preservação ambiental, está sendo devastado por especulação imobiliária. As construções desordenadas estão colocando em risco a saúde do manguezal e do rio, que margeia a comunidade. Ao lado de uma das praias mais limpas da cidade, a praia Dura, a mata atlântica que envolve o Rio Escuro agoniza e pede socorro.
Uma família que se apossou do local e há anos se beneficia da Justiça, comercializa os terrenos em área sob a proteção da marinha, localizada a poucos metros da margem do rio. “No último ano, dezenas casas foram erguidas, até a trilha que nos leva à praia e que corta o caminho para chegar aos condomínios próximos, onde trabalhamos, está sendo fechada”, diz uma moradora nascida e criada no Rio Escuro, mas por medo de represálias, não quis se identificar.
O campo de futebol dará lugar a mais construções. Um lote demarcado e que termina no rio já foi instalado um portão. Naquele local, a devastação acontece indiscriminadamente. Dezenas de bromélias morrem, denunciando a derrubada das árvores ao redor.
Na tentativa de diminuir o esgoto a céu aberto e o mau cheiro nas ruas do bairro, a Associação de Moradores decidiu, em 2012, fazer uma tubulação de esgoto, cujo trajeto desemboca no rio Escuro. “A maioria aqui não tem fossa séptica porque custa caro e joga seus dejetos no mangue. E essas casas construídas ao lado do manguezal jamais farão”, diz a moradora.
Em uma área visivelmente devastada, o que era mata atlântica cedeu lugar a uma futura pousada, que deverá abrigar turistas já na próxima temporada. A construção está a todo vapor. E no lugar da flora, o concreto espanta as mais variadas espécies de aves que habitam a região, causando um dano irreparável ao ecossistema local.
O mais curioso é que a população do Rio Escuro, quase 100% de moradores e trabalhadores dos condomínios de alto padrão da região elegeu um vereador. E ao ser perguntada sobre a atuação do parlamentar em benefício dos locais, a moradora, inconformada com o que tem testemunhado, desabafa: “nada faz e pior, fecha os olhos para a ocupação predatória do que resta de mata atlântica do bairro. Daqui a pouco não teremos mais trilha, nem bromélias, nem orquídeas, nem nada. Apenas casas e cocô e os nossos patrões da praia Dura, levarão seus filhos a uma praia contaminada com as fezes de seus empregados”, diz.