segunda-feira, 18 de março de 2013
São Paulo não cumpre meta de redução nas emissões de gases geradores de efeito estufa
Por Henrique Mendes.
De acordo com a lei 14.933/05 - que institui a política municipal de mudanças climáticas - o município deve publicar, a cada cinco anos, o inventário de emissões de GEE para diagnosticar e adotar medidas de gestão das emissões no município. Este inventário deveria atingir uma meta de redução de 30% das emissões de CO2eq já em 2012, em comparação com as emissões registradas em 2005. Diante de uma meta tão agressiva, já era de se esperar que este objetivo não fosse mesmo ser alcançado.
Uma das conclusões apresentadas para justificar este resultado foi que “a maior parte das emissões está fora do controle da prefeitura”, o que demonstrou uma precipitação ao adotar uma meta tão alta logo no primeiro período proposto pela lei. O inventário de emissões é uma ferramenta de gestão que demanda um maior conhecimento técnico de todos os envolvidos para assim melhor planejar as ações de diagnóstico e mitigação a serem adotadas.
O inventário foi feito referente aos anos de 2003 a 2009, com um complemento estatístico para 2010 e 2011. Dos números totais apresentados, a cidade de São Paulo emite em média 15.000 Gg de CO2eq (gigagramas de carbono equivalente) por ano, sendo que o setor de energia representa 81,9% deste total. Como mencionei no início, o setor de transportes é o que mais se destacou pelo fato de sozinho representar 61% das emissões relacionadas ao uso de energia. Logo fica claro para onde devem ser direcionados os esforços a fim de reduzir as emissões de GEE em São Paulo - não que isso seja surpresa para alguém. Basta sair de casa e dar de cara com engarrafamentos a qualquer dia e hora.
Ao decorrer do evento foram apresentadas iniciativas já adotadas pelo município em resposta a esta questão, como o investimento em biocombustíveis na frota de ônibus, o estímulo ao uso do trem e metrô, seguido de reflexões sobre a importância do plano diretor, onde foi destacada a relação direta do planejamento urbano com as emissões de carbono. Houve destaque para a questão dos ônibus, onde foram propostos investimentos na qualificação deste serviço através de um sistema em rede, estruturado, com espaço exclusivo para circulação e assistido em tempo real (gestão operacional).
O seminário, ao meu ver, serviu para apresentar os números reais das emissões de carbono da cidade de São Paulo e a trajetória que estamos seguindo. O fato de termos emitido cerca de 16.000 Gg de GEE a mais do que o estabelecido mostra o tamanho real do desafio e a complexidade de se combater este problema, que é em sua natureza, sistêmico. As metas dos períodos subsequentes serão definidas, por lei, dois anos antes do final de cada período de compromisso. Resta então saber se este assunto receberá a devida importância e atenção que exige, para criarmos metas reais e planos de ação eficientes que nos ajudem a alcançar os resultados necessários.
Henrique Mendes é Bioquímico pela UFJF com MBA em gestão ambiental pela FIT. Gerente de Negócios da www.neutralizecarbono.com.br e Consultor na www.greendomus.com.br.